Até um dia, Montemor!
Dezembro trouxe-nos a notícia que não queríamos ter recebido, a notícia da tua partida, querido Montemor. Foi num sábado, dia de descanso, que descansaste finalmente das canseiras da vida. Noutros tempos, os sábados foram para ti sinónimo de amigos e jantaradas, de convívio e noitadas. Em nós deixaste o riso fácil, as conversas sobre educação e o ensino em Portugal, as cantigas à volta da tua guitarra quando em atividades da Biblioteca, do projeto Erasmus+ ou em dias de festa nos brindavas com música.
Em todo o Agrupamento deixaste o bichinho do cante alentejano através dos projetos “Música para todos” e “Pequenos Cantores de Modas”, este último pensado e dinamizado por ti. De facto, lançaste a sementinha do cante nas nossas crianças e jovens.
Quando oiço os alunos, especialmente os que estão agora no 9.º ano, a cantar as modas alentejanas sorrio interiormente e murmuro para mim própria “Aqui está o Montemor!”. Sim, António, estás e estarás sempre na nossa memória e nos nossos corações. Por vezes, não foste bem entendido sobretudo por alunos e alguns pais/encarregados de educação e colegas, mas como pessoa deixaste-nos a generosidade, a partilha, a tua boa disposição, inúmeros momentos de gargalhadas genuínas e o amor pelas modas alentejanas. Deixaste-nos também um pouco da tua mãe de quem tantas vezes falavas com o carinho do filho que trata da mãe. Haverá legado maior?
E agora um pequeno segredo: no dia do teu funeral a nossa querida amiga Anabela Ramos convidou todos os presentes a cantarem uma moda alentejana. Antes de ires para a tua última morada, entre lágrimas, soluços e vozes embargadas, todos te cantaram a moda “Vamos lá saindo por esses campos fora, que a manhã vem vindo dos lados da aurora”. Que momento tão carregado de dor, emoção e reconhecimento. Se pudesses ter ouvido, sei que ias gostar muito. Se ouviste, sei que adoraste.
Citando Antoine de Saint-Exupéry, “aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós”. Obrigada, Montemor, por tudo o que deixaste em nós!
Até sempre, António (eu sei que gostavas que te tratasse assim). Até sempre, Montemor.
A Diretora: Alice Rocha
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